O prazer é dela: como ser feliz no sexo depois de tempos de relacionamento – UOL Universa

Ana Canosa – Colaboração para Universa

Baixo desejo sexual é uma das queixas mais frequentes nos consultórios de sexologia, especialmente em mulheres e em relacionamentos longos. Muito se atribui a razões fisiológicas, devido a flutuação hormonal feminina, mas sabemos que questões culturais estão fortemente associadas a possibilidade de mobilizar o desejo em busca de prazer sexual.

A permissão para desejar foi historicamente um valor facultado ao gênero masculino, seja no sexo, seja em outras áreas da vida, como a profissional, financeira, de atuação sociopolítica. Homens sempre exerceram o privilégio de desfrutar momentos sagrados de prazeres simples, como estar com amigos praticando esportes ou bebendo no bar, sem a pressão de se preocupar em voltar para casa por causa da esposa ou filhos.

As mulheres, por sua vez, foram estimuladas a desejar o casamento e a maternidade, como a sua maior ambição na vida, a desenvolver habilidades de cuidado e a valorizar o prazer alheio em detrimento do seu próprio.

Pesquisadoras brasileiras (Zanello & Araújo, 2024) investigaram mulheres heterossexuais que apresentam desejo sexual preservado, mesmo em contextos de relações longas, em busca de saber quais motivações subjetivas estão presentes nesse fenômeno.

Para se ter uma ideia do agravo, de 379 mulheres que responderam a um questionário, na primeira fase da pesquisa, só 10% consideraram o seu desejo sexual como “muito bom”. Essas mulheres tinham entre 32 e 78 anos, com média de 54 anos, e o tempo de relacionamento variou de 2 a 60 anos, sendo a média, 19 anos.

O estudo destacou 4 categorias a partir das falas dessas mulheres:

A primeira diz respeito a desconstrução da ideia romanceada do relacionamento afetivo-sexual, sendo que essas mulheres com desejo sexual preservado não depositam no amor a sua maior ambição. Elas não esperam dos parceiros atitudes que promovam seu prazer, sendo assertivas sobre o que gostam ou não gostam e enxergando o sexo como um ato erótico, não somente amoroso ou que vise satisfazer exclusivamente o outro. Valorizam o prazer físico, dando-se o direito de desfrutá-lo, inclusive tomando a iniciativa sexual.

A segunda categoria foi nomeada de “exercício de si mesma”, já que se colocam como protagonistas de suas vidas, reconhecendo e priorizando os seus desejos, sejam profissionais ou pessoais. Investem na autoestima e independência financeira e emocional.

Parceria na relação conjugal foi a terceira categoria elencada, já que esse grupo de mulheres reconhece que vivem uma relação afetiva-sexual mais igualitária com seus parceiros, não se sentem subjulgadas, passivas ou as únicas responsáveis por questões que envolvem o relacionamento. Valorizam relações baseadas na cumplicidade, intimidade e afeto e não se obrigam a manter relacionamentos quando os percebem como insatisfatórios.

A última categoria é vitalidade e vivacidade, a qualidade dessas mulheres terem vontade de aprender e viver coisas novas, sentirem prazer em vários aspectos de suas vidas, com interesses múltiplos que vão além do relacionamento amoroso ou da maternidade.

“Percebe-se que ser desejante – no sexo e na vida – é uma característica presente em mulheres que romperam padrões que por séculos foram designados ao gênero feminino, recusando scripts pré-estabelecidos e construindo uma narrativa própria, onde desejo e prazer são aspectos fundamentais para a jornada de satisfação pessoal.”

 

 

Confira também no Portal Universa: O prazer é dela: como ser feliz no sexo depois de tempos de relacionamento

 
Imagem: Uol Universa – Getty Images

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