Ana Canosa – Colaboração para Universa
Por mais sedutora que seja a proposta do amor romântico, o dilema atual das pessoas parece se situar entre o desejo de simbiose com a parceria e o desejo de liberdade.
Se a fidelidade sexual é considerada uma virtude e o adultério é uma falha moral grave e até mesmo pecado no modelo de casamento tradicional religioso, na realidade contemporânea, a maioria dos divórcios bem como dos homicídios conjugais é motivada pela infidelidade de um dos cônjuges.
Embora nossos ancestrais tenham formado laços para proporcionar cuidados biparentais em bebês de até 4 anos, é provável que tanto homens, quanto mulheres ao longo da história adaptativa tenham tido relações sexuais fora de suas principais alianças reprodutivas.
E na medida em que herdamos a arquitetura anatômica, biológica e psicológica de nossos antepassados, temos um desejo limitado de comprometimento primário com a parceria, bem como um impulso sexual poderoso de manter relações sexuais extra par o longo de nossa vida.
A maioria dos casais que faz menos sexo do que idealmente gostaria alega excesso de estresse e cansaço decorrente das atividades profissionais, preocupação com a criação dos filhos, além da interferência de outros fatores, como o uso de medicamentos que interfere diretamente na libido.
Além disso, parece que o amor, embora traga a satisfação da intimidade, segurança e aconchego, pode parecer incompatível com as necessidades do desejo sexual, que é movido pelo mistério e pela novidade.
“É desafiador que uma mesma pessoa possa oferecer segurança e estabilidade para aumentar a intimidade, e ao mesmo tempo gerar entusiasmo constante.”
Uma das explicações, sobre o desejo sexual ser mais intenso no início do relacionamento é porque existe um distanciamento psicológico entre os envolvidos, livre de conflitos.
Amor de fases
Durante essa primeira fase de amor apaixonado, é muito fácil viver de forma monogâmica e ser atencioso e dedicado, devido a arquitetura neurofisiológica envolvida.
A paixão tem características obsessivas, sendo frequentemente nossa mente invadida por pensamentos da pessoa amada ainda que seja contra a nossa vontade, uma ideia fixa, como se ela fosse a única do mundo. Características compulsivas também se fazem presentes, pois os apaixonados querem estar o tempo todo ao lado da pessoa, sempre e mais.
Mas essa fase, tem prazo de validade, aproximadamente 12 a 24 meses, sendo esse o tempo necessário, de uma perspectiva biologicista, para o casal copular e procriar.
Depois a prioridade passa ser outa, dedicar-se a prole, iniciando a etapa do Amor Companheiro, na qual toda a intensidade anterior se extingue.
“A relação passa a ser um esforço, não no sentido negativo, mas significa que atenção e a dedicação ao par demandam investimento para se manter a admiração, o carinho e a atração, e quando casais não se dedicam é comum o relacionamento sucumbir.”
Os casais monogâmicos relaxam e deixam de estimular o erotismo, lamentando que o desejo espontâneo diminuiu. Não vivenciam pequenas transgressões, que muitas vezes tornam a parceria mais excitante.
As pressões culturais, exigência de boa cidadania, moldam a rigidez de comportamentos entre o que pode e o que não pode, e muitas vezes isso acaba sufocando a criatividade erótica do casal, resultando em relações sexuais aborrecidas nada interessantes.
No instante em que um dos pares percebe que o outro não consegue satisfazer todas as necessidades de acordo com o ideal romântico, e passa a creditar que escolheram mal seu cônjuge, muitos partem para outra relação, na esperança que dessa vez vão escolher melhor, direcionando o foco no objeto do amor, e não na capacidade de amar.
Infelizmente esse processo, com frequência, ocorre na forma de “relação extraconjugal”, provocando dor e quebra de confiança no relacionamento, afetando diretamente o campo amoroso da relação primária, sendo muitas vezes difícil de recuperar os laços.
“A comunicação sobre satisfação sexual, erotismo e desejo deve ser frequente, inclusive para que outras possibilidades se apresentem, que não estejam só na conformidade da monogamia compulsória e no formato dos papéis conjugais.”
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