Ansioso? Homem ou mulher, transtorno pode estar detonando sua vida sexual – UOL Universa

Ana Canosa – Colaboração para Universa

Primeiro eu quero já deixar claro que, em uma sociedade “doente” como a nossa, ser tão resiliente a ponto de nunca ter experimentado algum nível de ansiedade é quase impossível.

Quando se fala em “transtornos mentais”, as pessoas fazem julgamentos preconceituosos sobre “ser maluco” ou outros que se referem a onipotência humana: “não preciso, vou dar conta sozinho”. Segundo a OMS mais de 450 milhões de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais nos países em desenvolvimento. A pesquisa realizada pelo Ideia “O que pensa o homem brasileiro”, encomendada pela revista GQ Brasil revelou, por exemplo, que 89,4% dos homens jovens relatam estresse – e nós sabemos como ele é combustível para transtornos de ansiedade.

“Uma certa ansiedade é esperada para novos encontros: haverá desejo? A performance agradará? O sexo vai ser bom? Mas quando isso toma a pessoa por completo, os efeitos podem transformar o sexo em uma situação nada divertida, prazerosa e de bem-estar.”

Existe até um termo para isso: Ansiossexuais – pessoas para quem o sexo passa a ter um sentido inverso de sua, digamos natureza, sendo fonte de sofrimento.

A ansiedade patológica pode ser definida por uma incapacidade de o indivíduo viver plenamente o momento presente, colocando sua atenção, disposição e ocupação apenas no futuro. Dessa forma, acaba prejudicando sua capacidade de desfrutar ou desempenhar satisfatoriamente o ato sexual, que exige maior desprendimento com as preocupações e maior comprometimento com o “aqui-e-agora”.

Mulheres que apresentam transtorno do orgasmo podem justamente estarem sofrendo com uma mente que vai para todos os lugares de maneira acelerada e impede que foquem nas sensações. O próprio pensamento: “será que vou ter um orgasmo hoje?” – se presente de maneira muito intensa, pode gerar um círculo vicioso, na qual a ansiedade gera disfunção, que piora por sua vez a ansiedade de performance na próxima relação.

Assim também ocorre com os homens: a prevalência de transtornos ansiosos em homens com disfunção erétil está entre 2,5 a 37% (com idades entre 45-54 anos principalmente). As emoções negativas, ansiedade ou medo de não atingir as expectativas da parceria produzem uma hiperatividade do sistema nervoso simpático, que está associada à redução do controle ejaculatório, gerando ejaculação rápida e reduzir a ereção, que é mediada pelo sistema nervoso parassimpático.

A etiologia da maioria dos transtornos mentais é multifatorial. Dá-se um desbalanço entre a capacidade inata e hereditária de adaptação às diversidades da vida, aliado a fatores ambientais, que provocam sintomas de variadas formas.

Em grande parte dos transtornos mentais, essas causas biológicas (genéticas, efeitos do uso de drogas, e outras) e ambientais (traumas, dificuldades, sofrimentos, angústias) produzem um desequilíbrio na ação de neurotransmissores cerebrais – os responsáveis pela comunicação entre os neurônios.

A dopamina, serotonina e noradrenalina são exemplos, e estão envolvidas em algumas funções associadas à sexualidade e tanto a dopamina como a serotonina podem potencializar ou minimizar o desejo sexual, dependendo da situação, quantidades e vias envolvidas.

A serotonina é um neurotransmissor que está associado à regulação do humor, da ansiedade, controle de prazer, dentre outros. Já a noradrenalina está relacionada ao ânimo, disposição, vontade e controle da dor a nível central, por exemplo. Um desbalanço nessas substâncias.

“É extremamente importante falar sobre o tema, para que as pessoas entendam o que acontece com a sua resposta sexual e afetiva, a fim de buscar tratamento adequado, perguntar sobre os efeitos da doença e da medicação na resposta sexual. Terapias integrativas – acupuntura, reike, mindfulness, ioga, são grandes aliadas a medicação e psicoterapia.”

Pela minha experiência, conversar sobre a ansiedade com as parcerias sexuais é fundamental e libertador: normalmente as pessoas acolhem bem e ajudam, falando sobre as suas expectativas, que sempre são bem menores do que a cabeça do ansioso imaginou.

 

 

Confira também no Portal Universa: Ansioso? Homem ou mulher, transtorno pode estar detonando sua vida sexual

 

 
Imagem: Uol Universa – Getty Images

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